terça-feira, 28 de agosto de 2012



Nesta leitura você conhecerá a historia do encontro de Li Hon Ki com Duncan Leung, Mestre Li Hon Ki havia treinado com varios mestres diferentes da sétima geração como Ho Kam Ming, Ng Chang, Koo Sang, e Ng Ken Po, e somente após conhecer Duncan Leung, finalmente conheceu o  “verdadeiro espírito do sistema”, depois de mais de vinte e cinco anos de busca.

Ao final você encontrará ilustrações do livro. 

Fonte: Wing Chun Warrior - Duncan Leung's True Fighting Episodes


Capitulo 1

O Professor Humilhado

Virginia Beach
1993

O sapo no poço
井底之蛙
 (jing di zhi wa)
Zhuangzi (莊子, 350-286 A.C.)


   Zhuangzi foi um filósofo taoísta do Período dos Reinos Combatentes (475-221 A.C.), que usou fábulas, muitas vezes engraçadas, para transmitir lições de moral. Ele foi o principal descendente espiritual de Laozi (老子), fundador do taoísmo. O sapo no poço é um conto de Zhuangzi bem conhecido que adverte sobre a imposição de nossa perspectiva limitada sobre a vida.
 "Você está consciente”, Zhuangzi parece perguntar "da limitação imposta pela sua própria ignorância?”
veja a narração do professor Li Hon-ki, dita em suas próprias palavras, sobre seu encontro com Duncan Leung:

Eu era um fanático por artes marciais desde a minha adolescência, tenho estudado um conjunto de sistemas, incluindo vários estilos de Kung Fu. Em 1965, quando eu tinha 13 anos, comecei a aprender Zhou Jia (周家) e Hong Quan (洪拳).

Em 1968, Bruce Lee tornou o Wing Chun conhecido mundialmente, e como muitos de meus contemporâneos, eu mergulhei com entusiasmo.
Nos próximos três anos, eu aprendi com um instrutor de Wing Chun da sétima geração. Eu trabalhei duro e atingi um nível em que manipulava o homem de madeira, facas duplas e o bastão longo, Mas, eu sentia que faltava algo. Entre 1971 e 1973, estudei com mais três instrutores de Wing Chun, também da sétima geração, para garantir que eu havia aprendido tudo o que tinha para aprender.

Durante este período eu também aprendi Tai Ji Quan (太极拳), Tae Kwon Do e Karatê, o suficiente pra dizer; eu era versátil.Em 1973, ganhei a “Hong Kong Tae Kwon Do Open Championship”. Em 1977, eu fui vice-campeão na “Hong Kong Kung Fu Association competition”. Eu estava confiante nas minhas capacidades e muito orgulhoso de mim mesmo.


Mestre Li Hon Ki praticando Hung Gar


Em junho de 1979 eu deixei Hong Kong e fui para o Brasil e começei a ensinar Kung Fu lá. Eu ensinei Hong Quan, Tai Ji Quan e Wing Chun.
Não demorou muito para me tornar um instrutor estabelecido. Além disso, eu continuei a minha própria aprendizagem.
Meu maior problema foi contra chutes. Pugilistas tailandeses são bem conhecidos por seus chutes violentos e paralizantes. Sem um treino especial para fortalecer as minhas pernas, eu não iria poder nem levantar se um Thai Boxer desse algum chute em qualquer parte das minhas pernas, naquele momento, eu senti a necessidade de aprender Thai Boxe porque Wing Chun mal tinha chutes ou o treinamento para fortalecer os membros inferiores. Mais tarde fui perceber como foi errado pensar desta forma.

Oyama Karate era bastante popular no Brasil, e assim como os praticantes de outros sistemas de artes marciais e estilos de Kung Fu, eles tiveram que aprender chutes de Muay Thai para poder ter algum
a chance contra Thai Boxers. Eu aprendi as tecnicas de um praticante de Oyama Karate que veio a mim para estudar Wing Chun.

Durante os próximos cinco anos, eu pratiquei até poderquebrar uma madeira dois-por-quatro com as minhas canelas. Eu poderia suportar qualquer chute nas pernas, de qualquer estilo ou sistema, fiquei extraordinariamente orgulhoso dessa minha realização, eu sentia que poucos praticantes de Wing Chun poderiam se igualar a mim.

Em 1993, a crise financeira no Brasil me obrigou a deixar São Paulo e ir para Nova York. durante os próximos anos eu tive uma clínica de medicina tradicional chinesa lá, e o meu negócio floresceu.

Naquele ano, fui convidado para fazer uma demonstração no Campeonato Mundial de Kung Fu em São Francisco. O que poderia ser mais gratificante para o meu ego do que poder mostrar as proezas dos meus chutes diante do mundo? diantes de um grande público e com a cobertura completa da televisão, com meus assistente segurando firme um taco de beisebol perpendicular ao chão, com um único chute eu quebrei ele ao meio com a minha canela esquerda, nada mal para habilidades com chutes.

No entanto, havia uma pessoa que eu respeitava que não se impressionava nem com minha proesa e nem com meu kung fu - o meu irmão mais velho Albert. Ele sugeriu que eu fosse me encontrar com um velho amigo dele em Virgínia.
Durante anos ele foi me contando sobre Duncan Leung e sua magistral habilidade de arte marcial, francamente, eu já estava cansado de ouvir sobre esse cara, e se ele for da sétima geração de Wing Chun? Eu tinha aprendido não com  um, mas com quatro especialistas da sétima geração. O que mais alguém poderia me ensinar? Finalmente, desgastado pelo meu irmão persistência, mas muito cético, eu viajei com ele com uma certa relutância pra Virginia Beach, um balneario na costa da Virginia.


                                                Grão Mestre Duncan Leung e Mestre Li Hon Ki em Virgínia.


Fomos convidados a nos hospedar na casa de Duncan. No dia seguinte após a nossa chegada, eu acompanhei Duncan não a sua academia de Kung Fu, que era o objeto de minha visita, mas ao seu escritório, pendurado em torno das 9:00 da manhã até 5:30 da tarde. Sempre que eu mencionava Wing Chun, ele mudava de assunto, fiquei muito chateado, afinal, eu fiz todo o caminho de Nova York, pensando em artes marciais, e aqui ele não quer sequer discutir o assunto.
Duncan percebeu minha frustração. "O que você quer", ele perguntou.
"Meu irmão me disse que você é um especialista em Wing Chun, e eu quero ver o que você sabe.”

Duncan não parecia muito interessado.

"O que você aprendeu?"

"Eu aprendi tudo, boneco de madeira,facas duplas e bastão longo".

"Você aprendeu tudo. Não há nada mais que eu possa te ensinar. "

"Por que não fazemos um Chi Sau?" Eu o desafiei.

Chi Sau (黐 手) é um exercício único do Wing Chun, em que os praticantes melhoraram a sua sensibilidade em contato com um oponente.
O aspecto mais importante do treino de Chi Sau é cobrir as áreas expostas. Este é um grave equívoco, mesmo entre muitos instrutores de Wing Chun.
Eu tinha orgulho do meu Chi Sau. Eu ainda não tinha encontrado outro praticante de Wing Chun que pudesse me superar. Duncan podia ver como eu estava ansioso para exibir a minha habilidade em Chi Sau, e ele decidiu me dar a oportunidade de mostrar.

Ele se levantou de sua cadeira. Caminhou à frente de sua mesa, e me chamou para levantar também, eu levantei da minha cadeira e caminhei para a frente de sua mesa.
Assim que nossos braços se entrelaçaram, eu sabia que seria derrotado.

O antebraço dele se agarrou ao meu como serpentes entrelaçadas!
Em vão eu puxei e empurrei, mas não sentia nada!
Onde estava a minha percepção sensorial? Duncan olhou como se ele estivesse em transe, havia um sofá atrás de mim no escritório, e sempre que eu tentava puxar empurrar, eu era vergonhosamente jogado de volta para o sofá.
Duncan  não mostrava sentimento de triunfo, de fato.Ele parecia completamente indiferente, exceto que deve ter sentido pena dos meus alunos do Brasil!
Será que ser jogado no sofá três vezes seria suficiente para me convencer que eu tinha encontrado meu mestre? Ainda não - Eu era teimoso.

Eu ainda tinha poderosos chutes no meu arsenal de truques.

"Duncan, seu Chi Sao é surpreendente, agora eu sei o que realmente é Chi Sao. "

"Esquece, estou certo de que existem outros caras melhores do que eu. "

"Eu sei que Wing Chun quase não tem chutes, você consegue parar meus chutes? "

"Você está certo, no Wing Chun não tem praticamente nenhum chute, os pés não são para chutar, eles são para quebrar. "

"O que você quer dizer?"

"Uma das técnicas mais difíceis do Wing Chun é o domínio das habilidades de chutes. Os chutes de Wing Chun são poderosos e eles quebram as pernas do oponente. "

"Eu não acredito nisso. Tente me mostrar”. Eu deveria ter percebido que estava arrumando problema, mas eu tive que mostrar a proeza dos meus chutes.

"Eu só te digo que vou quebrar sua perna, se você tentar me chutar. "

"De jeito nenhum!" Minhas pernas eram a minha obra-mestra. Elas quebravam bastões de beisebol.

Mudei para a postura de combate, enquanto Duncan só ficou calmo com os braços atrás das costas (tal como testemunhou seu Sifu Yip Man fazendo em Hong Kong em 1955,  diante de um disafiante - ver Capítulo 12). No momento que eu balancei meu poderoso pé esquerdo para ele, o pé direito dele já estava lá para atender o interior do meu joelho esquerdo! Ele apenas o tocou, e eu perdi o equilibrio. Percebi que ele poderia facilmente ter quebrado.

"Eu quero que você seja meu Sifu, por favor, aceite-me ", eu humildemente supliquei.

"De jeito nenhum. Eu não posso aceitá-lo "

Eu sabia que era por causa da minha arrogância que ele havia sido duro comigo, mas eu comecei a implorar para Duncan, mas a sua resposta ainda era negativa.

"Enfim, você mora muito longe."

Nem meu irmão albert poderia mudar a mente de Duncan. Deixamos Virginia Beach e voltamos para Nova York, eu sentia muita pena de mim mesmo. Todos os anos de trabalho duro estudando Wing Chun foram inúteis, o que eu aprendi? Duncan poderia quebrar meu joelho, forçando-me a ajoelhar-se diante dele e suplicar.

Talvez então ele me aceitou por simpatia.

Eu ponderei as ultimas palavras de Duncan: "Você vive muito longe ", e me perguntei se essa era a minha salvação. Era isso! Eu ia viver tão perto que ele não teria nenhuma desculpa para me recusar novamente.

Determinado, fui ver Ma Man Nam, primeiro duscípulo de Duncan (ver Capítulo 25), para pedir o seu conselho, ele me contou sobre a cerimônia Culto especial do Sifu (拜師儀式 - ver Capítulo 6) e me ensinou como preparar. Fechei a minha atividade médica,e com a bênção de Albert, eu deixei Nova York e fui para Virginia Beach.

Dois meses depois do nosso primeiro encontro,Duncan abriu a porta de sua casa e me encontrou em pé lá segurando duas malas.
Ele ficou chocado. Mas ele percebeu o tamanho da minha determinação e aceitou ao meu pedido. Após anos de pesquisa, eu finalmente encontrei o meu mestre.
A Cerimônia do Sifu (Bai Si)foi tradicional, tendo sido ensaiada por Ma Man Nam, eu comprei incenso, arroz, vinho, pequenas xícaras de porcelana, uma urna, porco assado, o bi shi tie (拜師帖) e o envelope vermelho (Hung Bao). Após as três ajoelha e nove reverências, me tornei um discípulo da Oitava geração, Duncan Leung se tornou meu Sifu.

Quando fui pela primeira vez em sua academia, vi seus alunos e discípulos fazendo sparring entre si, e eu estava ansioso para participar, mas Sifu me disse que eu não tinha chance contra eles. Para satisfazer a minha curiosidade, ele pediu a um garoto de 15 anos de idade, fazer sparring comigo.

Sifu estava certo. Eu não aguentava o seu bombardeio, pois eu não sabia como cobrir, fiquei ainda mais desmoralizado quando ele me contou que o menino treinava com ele por apenas nove meses! Mas ele me disse que após um ano de intenso treinamento eu deveria ser muito melhor, porque eu ja tinha base sólida.
Durante os próximos dois anos, trabalhei e aprendi com a orientação do Sifu Duncan, o treinamento foi realmente intenso.

Tudo o que ele ensinava era tão diferente do Wing Chun que eu tinha aprendido antes, eu estava aprendendo Applied Wing Chun.
No fim de 1994, voltei para o Brasil, e pela primeira vez na minha vida, interiormente me senti como um homem. Sifu não se limitou a me ensinar apenas a auto-defesa dele, eu desenvolvi verdadeira auto-confiança e auto-estima, de fato.O credo de Duncan Leung Wing Chun Academy é Confiança, Defesa, estima.
E não surpreende o fato de que, assim como meu Sifu foi, eu também era ridicularizado por outros professores que disseram que o que eu estava ensinando não era Wing Chun, mas eu podia perdoar sua ignorância, pois eu já havia estado entre eles, até que a sorte me mostrou o erro dos meus caminhos.
KIAI Kung Fu Magazine foi o mais popular publicação de artes marciais na época, a revista pediu para me entrevistar, e esta entrevista iria mudar minha vida.
Os temas abordados eram Kung Fu tradicional, medicina chinesa - o que inclui a arte do diagnóstico,acupuntura e ervas medicinais - e filosofia oriental. Durante a entrevista, eu também lancei um desafio aberto aos praticantes de Kung Fu e artistas marciais, especialmente os céticos de Wing Chun.

A entrevista chamou a atenção dos administradores da UNEB, Universidade do Estado da Bahia, que então me convidou para ensinar Applied Wing Chun nessa instituição. Mais tarde, eu iria trabalhar com a universidade na pesquisa de medicamentos fitoterápicos. Em 1996, fui convidado para a cadeira de professor titular em chinês, Medicina tradicional e Estudos Orientais, desde então, eu venho ensinando acupuntura, ervas medicinais, massagem, Qi Gong (气功) e Estudos Orientais na UNEB, na Bahia e filiais da Universidade de São Paulo e Rio de Janeiro.

Meus alunos foram vencedores em 1996 do campeonato mundial de Wushu em Zhengzhou (鄭州), Província de Henan (河南省)China, e em 1998 no campeonato mundial de Guoshu em Taipei.
Atualmente, atuo como Consultor e Instrutor Chefe para federação de Kung Fu do Brasil, e Diretor e instrutor do Comitê de Wushu Olímpico do Chile.
Eu continuo visitando meu Sifu e aprendendo com ele sempre que possível, geralmente no verão, agora eu percebo que ainda há muito o que aprender com ele, e eu só desejo ter tempo para estudar mais.
Como prova da minha estima por Sifu, eu ensino Applied Wing Chun. Se eu tiver que usar uma palavra para descrever o meu Sifu de Applied Wing Chun, ela é: incomensurável!






Fonte: Wing Chun Warrior - Duncan Leung's True Fighting Episodes






2 comentários:

  1. Olá!muito interessante os trechos sobre Sifu Li Hon Ki!Estou estudando por mais de 6 anos Wing Chun,JKDo,Boxe e outros,sou auto-didata quero saber se existe a possibilidade de conseguir aula em período intensivo em Wing Chun,para melhorar o meu JKDo!

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